AGONIA AMORDAÇADA

Houve um silêncio após a pergunta. Como se esperasse voltar no tempo e não ter escutado aquilo. Enquanto o tempo não voltava, a pergunta ficou ecoando na minha cabeça, e na dele, e em toda a sala. “Então é isso?”

“Então é isso?”

Nunca é só isso. É uma junção de várias coisas pequenas, com outras coisas que eram pequenas e se tornaram grandes, com coisas que nem importavam, mas agora importam. Pouco a pouco, o pior de você vem à tona. Tudo aquilo que você tenta esconder, tenta camuflar, tenta melhorar e tenta não deixar transparecer. É como um monstro com quem você luta contra, e na maioria do tempo está no controle da situação, mas quando menos percebe, ele te encurralou. Daí vem explosão. BOOM. Até as coisas voltarem pros eixos, demora. E as consequências? Não dá pra medir.  

“Então é isso?”

Permitir que alguém entre na sua vida é mais difícil do que tentar entrar na vida de alguém. As pessoas querem ser ouvidas, então é mais fácil ouvir do que ser ouvido. O medo de ser julgado de ser mal compreendido, de causar estranhamento, causar sofrimento, de estar dando em menor proporção do que recebendo, de gerar expectativas e não conseguir suprir, de estar cometendo um erro, de sofrer. É tanta coisa que fica mais fácil não permitir a entrada do que se arriscar.

“Então é isso?”

Ele não entenderia se eu explicasse. Eu não sei explicar de um jeito que ele entenda. Eu só queria que quando fosse externalizado, fizesse tanto sentido quanto faz dentro da minha introspecção. A minha vontade real é ser uma aventureira, mas uma aventureira não possui amarras e eu as tenho em demasia. Queria me jogar de cabeça. Mas não consigo pular sem me certificar por mim mesma que estou em segurança. Não consigo. Demanda muito tempo.

-Eu não vou te fazer sofrer! – ele disse. O som da voz dele cortando meus pensamentos fez meu coração acelerar.

-Eu sei! – respondi com uma voz triste

-Eu não me importo de te esperar.

-Eu não quero que ninguém espere por mim.

-Mas eu quero! – mais um micro momento de silêncio – você tem medo de que?

-Eu não sei explicar...

-Eu não estou aqui pra pesar na tua vida, tô aqui pra te ajudar. Você não me quer do seu lado? Não quer enfrentar?

-Claro que quero! Mas é muito egoísta, eu não posso te ajudar de volta. Eu não quero sofrer, não quero que você sofra.

-Você não me faria sofrer nem se quisesse. Você já me ajuda muito. Só a sua ausência me entristece. Eu só quero sua presença. Seu toque no meu corpo, sua cabeça no meu peito, sua perna em cima da minha perna, teu beijo no meu pescoço, sua gargalhada. Você é uma pessoa incrível, é sincera, é verdadeira, é uma artista da vida. Você me faz ver a vida com outros olhos, me ensina a ter paciência e ser alguém melhor, me ensina a amar incondicionalmente. Não consigo ficar longe de ti. Nós vamos melhorar;

Eu já não tinha controle sobre minhas lágrimas. Esse depoimento é tudo que algumas pessoas desejam ouvir na vida, alguém de peito aberto expressando todos os sentimentos puros e verdadeiros por você. Se sentir amado é a coisa mais preciosa que existe. Mas eu não conseguia. Era mais forte que eu. Eu não conseguia visualizar uma versão de mim que pudesse retribuir aquilo. Ele tentou pegar na minha mão, mas eu não deixei. 

-Você não tá disposta? A lutar pela sua felicidade?

-Não quero tornar as coisas mais difíceis o que estão sendo, eu não tenho forças pra lutar.

-Então eu luto por nós dois!

-PARA! – gritei aos prantos com todo o resto de energia do meu corpo, ele arregalou os olhos – Para! Eu não consigo. Me entende, por favor.

-Então é isso? – ele disse já num tom de desânimo e desistência.

Só balancei a cabeça fazendo sinal positivo com as mãos no rosto enxugando as lágrimas. Ele levantou e foi embora. Não era isso, mas acabou sendo.