Tiro a blusa e penduro no cabide,
fecho a porta e tranco, apago a luz apertando o interruptor. CLAC. A partir de
então, o que se vê é só a penumbra de um grande espetáculo. O pavio dos nossos
fogos de artifício acabara de acender. É o começo da aventura de explorar a sensibilidade
do outro corpo, que é outro apenas no começo, depois, de forma natural e
inevitável, unem-se.
Cada movimento é um exercício de
liberdade, cada toque é um gozo, entre mãos que se entrelaçam e acariciam,
bocas que se desafiam e se enchem de desejo, e se escapo em abrir os olhos, é
apenas para contemplar a beleza que o espetáculo proporciona a plateia, que
somos nós mesmos.
Já unidos, somos passarinhos
vagando em jardins de girassóis, somos as borboletas do nervosismo dançando valsa matrimonial,
somos astronautas dividindo universos, somos espectadores e artistas da
dramaturgia mais genuína que a forma humana proporciona. A verdade é que não
somos seres humanos tendo experiências espirituais, e sim seres espirituais que
tem experiências humanas, e essa linha do transcendental se rompe no clímax da sessão.
Quando a hipnose da conexão vai
chegando perto do fim, retornam os dois corpos aos seus lugares, para que sejam
feitas as despedidas; dois corpos que já não são mais os mesmos, totalmente
modificados pela troca de energia vital e preenchidos de vibrações que se
assemelham as dos evoluídos, que a emanam por natureza.
Ficamos de pé e nos olhamos
rindo. Um abraço que cabe o consolo e o conforto encerra o espetáculo. Êxtase. Acendo a luz para o encontro com o público e
agradecimento pelo grande show apresentado, aperto o interruptor. CLAC.
Aplausos.