domingo, 25 de agosto de 2019

CLAC


Tiro a blusa e penduro no cabide, fecho a porta e tranco, apago a luz apertando o interruptor. CLAC. A partir de então, o que se vê é só a penumbra de um grande espetáculo. O pavio dos nossos fogos de artifício acabara de acender. É o começo da aventura de explorar a sensibilidade do outro corpo, que é outro apenas no começo, depois, de forma natural e inevitável, unem-se.

Cada movimento é um exercício de liberdade, cada toque é um gozo, entre mãos que se entrelaçam e acariciam, bocas que se desafiam e se enchem de desejo, e se escapo em abrir os olhos, é apenas para contemplar a beleza que o espetáculo proporciona a plateia, que somos nós mesmos.

Já unidos, somos passarinhos vagando em jardins de girassóis, somos as borboletas do nervosismo dançando valsa matrimonial, somos astronautas dividindo universos, somos espectadores e artistas da dramaturgia mais genuína que a forma humana proporciona. A verdade é que não somos seres humanos tendo experiências espirituais, e sim seres espirituais que tem experiências humanas, e essa linha do transcendental se rompe no clímax da sessão.

Quando a hipnose da conexão vai chegando perto do fim, retornam os dois corpos aos seus lugares, para que sejam feitas as despedidas; dois corpos que já não são mais os mesmos, totalmente modificados pela troca de energia vital e preenchidos de vibrações que se assemelham as dos evoluídos, que a emanam por natureza.

Ficamos de pé e nos olhamos rindo. Um abraço que cabe o consolo e o conforto encerra o espetáculo. Êxtase.  Acendo a luz para o encontro com o público e agradecimento pelo grande show apresentado, aperto o interruptor. CLAC.

Aplausos.