quarta-feira, 3 de outubro de 2018

ATÉ ATAR O ATO


Parece que no trajeto da universidade para minha casa abre-se um portal onde a mente vai para lugares que comumente não se conhece o caminho. Acontece como se já estivesse desenhado: um pensamento leva a outro, a outro, a outro, que leva a um outro que conecta todos os anteriores. É como um labirinto que está sendo desbravado e explorado. Mas não é um labirinto comum, muitas vezes as portas que achamos que serão abertas, estão trancadas e outras que eram para estar interditadas, estão escancaradas. Não faz tanto sentido. Pelo menos não da perspectiva que está sendo observado. Só que neste dia foi diferente, eu estava com meu amigo Gabriel desbravando esse labirinto e finalmente encontramos a analogia perfeita. Na verdade, não é um labirinto.

Eu tenho uma teoria que numa relação – recíproca, pelo amor de Deus – quem não tem uma inteligência emocional desenvolvida, ou seja, quem é emocionalmente instável, DEVE ser amparado por quem é mais estável. Partindo desse princípio, quaisquer conflitos que envolvam inseguranças indevidas, ciúmes paranoicos ou medo de abandono, podem ser discutidos e, muito provavelmente, solucionados, pois encontra-se o ponto de instabilidade, as causas dos sentimentos e assim, procura-se meios de resolver os problemas.

Novamente, temos que partir do princípio que estamos falando de uma relação recíproca, onde os envolvidos estão preocupados com a evolução do outro e querem crescer juntos. Se você, leitor, não gosta de discutir esse tipo de coisa ou acha que devemos “descomplicar”, pode apertar o X ali em cima, porque as coisas são complicadas sim e descomplicar não significa ignorar.

O que me entristece, e conversando com o Gabriel percebi que não é só a mim que cabe esta indignação, é que as relações estão acabando – ou nem sequer começando – porque as pessoas não querem assumir a sua instabilidade, não querem conversar, não querem se abrir. Ao contrário, preferem pagar um profissional para que possam contar suas histórias e refletir sobre os impactos destas (não desmerecendo o profissional da área, até porque eu também recorri a eles e são de fundamental importância, viva a psicologia!). As pessoas não querem desatar os seus nós.

Não é um labirinto. A nossa mente é só um emaranhado de cordas emboloadas em vários nós que muitas vezes não conseguimos desatar sozinhos. E o que é de praxe é que colocamos esse novelo na mesa do outro e que se vire para ajeitar tudo. “Não deu conta? Ah, é porque eu sou louco! Ah, sei lá oh, nem eu me entendo”. E quem não conseguiu resolver que fica se sentindo incapaz? O que fazer com essas duas partes possuidoras de nós que estão preferindo a solidão e a própria companhia para não incomodar ninguém com essa bagunça interna?

Pois bem, existe gente nesse mundo como eu e o Gabriel, que quer sim desatar os nós, que se importa, que quer crescer junto e resolver os problemas. Que também se entristece de não conseguir desfazer uns que estão muito apertados, mas que é feliz por ter desfeitos outros com certa facilidade. O problema não está nos nós, e sim em entender os nós. Em saber que do outro lado existem tantos quanto. Em juntar os nós e ficar os dois tentando eternamente desatar e atar coisas juntos. O papel de emocionalmente instável e estável não é fixo, a gente não escolhe como reage as coisas, mas escolhe como lida com elas.

Assim segui para minha casa e o Gabriel para a dele, com a certeza de que estamos no caminho certo e que durante essa conversa desatamos mais um nó. Ou talvez fizemos mais uns três. O que a gente sabe é que não vamos desistir das pessoas e que encontraremos alguém que queira ser para cada um, um grande NÓS.