Eu
queria esclarecer e me posicionar sobre o “caso do Roi”. Pra quem não sabe, o
Roi tava lá no Vintage, mandou mensagem pra mim dizendo que o Vanderson tava
lá. Eu falei pra ele tirar foto pra gente postar no nosso Instagram. Então foi
uma ideia conjunta. Tanto a foto como a legenda. O problema é que o Roi postou
na rede social pessoal dele. Ai veio a galera cair em cima e ele foi
massacrado. A piada dele foi: “de um lado terror das mulheres, de outro o
Vanderson.”.
Então
eu tô aqui pra esclarecer três pontos.
Primeiro:
A piada. Assim como um mágico, o comediante nunca explica suas piadas. Mas o
Brasil tem um grave problema de interpretação, então vamos lá. O que configura
uma piada – ou uma situação engraçada – é ter uma situação normal e uma
distorção cômica que quebre a lógica. Por isso que se eu estiver andando na rua
e um idoso tropeçar e cair na minha frente, eu vou rir, porque não é uma
situação normal, é algo que quebra a lógica. Mas eu vou ajudar ele a se
levantar e perguntar se ele está bem e rir com ele disso.
Quando eu falo “de um lado terror das
mulheres, de outro o Vanderson”, eu quero dizer o que? Qual é quebra da lógica?
O “terror das mulheres” não é o Roi, tanto porque ele não faz sucesso algum com
as mulheres, e porque o agressor é o Vanderson. É igual tirar foto com o Neymar
e falar “de um lado o maior sonegador de imposto do mundo, do outro o Neymar”.
EM MOMENTO ALGUM, nós colocamos as vítimas dele em uma posição inferior, nem as
mencionamos, nem falamos que concordamos com o que ele fez. Ai depois teve o
comentário do Roi (que pode ser visto como infeliz, dependendo de como se
analise) embaixo dizendo: “ele nem me bateu, gente boa demais”, mais uma vez
falando que o Vanderson é agressor. Igual tirar foto com o Lula e falar “ele
nem me roubou, gente boa demais” ou tirar foto com o Thor Batista e falar “ele
nem me atropelou, gente boa demais”. A ironia está para o lado do agente e não
do reagente.
O
problema é que as pessoas veem uma foto com o Vanderson e não veem nenhum
xingamento, nenhum discurso que fira o cara, então automaticamente eles acham
que estamos a favor dele. NÃO ESTAMOS. Não somos amigos dele. Não somos a favor
de violência contra mulher, nem feminicídio, nem achamos graça nisso.
O
Roi já fez inúmeras piadas denegrindo o Vanderson, quem acompanha nossas
apresentações sabe disso, mas isso ninguém vê, ninguém comenta.
Segundo
ponto: Liberdade de Expressão. Nós vivemos num pais em que eu sou livre pra
dizer tudo que eu quero e, dependendo do discurso, eu tenho que arcar com as consequências
disso. Então, assim como eu exerço meu direito de falar o que eu quero, as
pessoas tem TODO O DIREITO de opinar a respeito disso. Então se você não gosta
de uma piada feita por nós, você tem todo direito de falar: “falou merda hein”,
“piada horrível”, “não teve graça”, ou a reação mais absurda: simplesmente não
rir, porque isso é uma resposta sensata e, eu diria até que normal, pra uma
piada ruim ou de mau gosto. E você ainda contribui com o nosso trabalho.
O
que não pode, e eu particularmente não concordo, e aí que eu entro no terceiro
ponto: são os ataques pessoais. Muita gente atacou o Roi de maneira pessoal,
falando que ele é mau caráter, um nojo, aproveitador, por causa de uma piada.
Ou até de outras piadas que ele já tenha feito antes. Eu não vou deixar os
destruidores de reputação de plantão falarem o que falam, sendo que ou só
querem uma midiazinha ou não tem respaldo algum pra falar.
A
Srta. Luli, que inclusive já dissemos que tem entrada gratuita vitalícia em
qualquer apresentação nossa, disse que o Roi ataca as minorias, ninguém fica
procurando minoria pra atacar, não precisa disso. O Sr. Urik disse “alguém resolveu
se posicionar sobre esse humor ofensivo que ele costuma fazer, resolvi
aproveitar o momento” e “não to acompanhando o caso e não sei se foi
inocentado, mas fazer piada com isso traz uma desmoralização”. Fico triste do
Urik ter perdido noites pensando em se posicionar em relação ao bosta do Roi, e
infelizmente o Roi desmoralizou o caso. Pedimos desculpas Urik.
A
gente é comediante, a gente não quer saber se a piada é saudável, ofensiva,
pesada, a gente que só quer falar merda. E se alguém rir, tá valendo. Esse é o
nosso trabalho. Se nada do que a gente fizer alcançar o riso, aí quer dizer que
estamos fazendo a coisa errada.
Chega
a ser idiota ter que fazer esse texto, mas eu não posso deixar amigo meu ser
massacrado, nosso grupo ser prejudicado, por causa de gente que só quer militar
e defender uma causa com todas as suas forças, mas é só quando convém.
As
nossas piadas em nada dizem sobre o que nós somos. Igual os tweets de vocês não
dizem muito sobre o que vocês são. Vocês atacam o argumentador e não o
argumento.
“Ah,
dá pra fazer piada sem ofender ngm”. Dá mesmo? Vamos aos exemplos:
-
O que é um pontinho azul na parece? Um azulejo.
-
Era uma vez uma galinha arroz que soltou um peido pra nós dois.
-
Um pintinho não tinha perna, foi ciscar e caiu. (Essa foi ofensiva, já que o
pinto era deficiente).
Talvez
o problema não seja a piada ser ofensiva ou não, e sim, se vai de encontro com
o que você concorda.
Só
pra finalizar, o Sr. Emanuel, @serializador, que disse que o stand up local não
vai pra frente:
Ano
passado, em dezembro, a gente fez um show beneficente e arrecadou mais de 70 kg
de alimentos pra uma creche. O que é o MÍNIMO que a gente pode fazer enquanto
promovedores de um rolê cultural. Tem dois dos nossos comediantes que tem
problema de depressão, ansiedade, bipolaridade, que encontram nesse rolê da
comédia, um conforto e um remédio. Tem gente que chega pra conversar depois do
show e fala: “porra cara, trouxe meu pai, minha mãe, meu tio, e foi muito legal...”.
Então a gente tá AJUDANDO as pessoas, levando ALEGRIA pras pessoas. Nenhum de
nós tem prazer em ofender ou quer ver gente sentida. A gente gosta de fazer
isso porque a gente quer o RISO como resposta.
Então
se você não gosta do nosso trabalho, basta não acompanhar. Se você não gosta do
que o Roi posta, é só dar unfollow. Se você acha que nossas piadas contribuem
para a propagação do preconceito, vá a um show nosso e preste atenção nos
nossos textos, que são totalmente diferente de tudo que está sendo feito Brasil
a fora, por exemplo: eu já fiz textos exaltando os surdos e a LIBRAS e de como
eles são fodas, já fiz textos sobre como os gays são muito mais legais que os
héteros, o Emanuel fala de como ele sofre preconceito e escracha os que não
acreditam que existe (ele é negro), o Maikon faz piadas de como é ter nascido e
criado no Taquari, o Schattat fala dos problemas dele de depressão. Então eu BOTO
MUITA FÉ NO STAND UP LOCAL.
Agradeço
a todos que não concordaram e se manifestaram de forma educada. O Caça Risadas
está em temporada aberta em 2019, todos estão convidados aos nossos
espetáculos. Inclusive os que foram citados acima.