domingo, 9 de julho de 2017

RAPUNZEL

A Rapunzel se apaixonou por mim. Ela me olha como eu sempre quis que alguém me olhasse. Como se eu fosse o brinquedo mais legal que a criança mais sortuda acabara de ganhar. Tenho medo de falar dela num tom errado e confundir as causas e efeitos dessa história muito interessante.
Quando a conheci, não esperava nada. E nem tinha o que esperar, o momento que eu estava não era propício para aquilo. O que eu encontrei foi algo diferente, inusitado e talvez, surpreendente.
Rapunzel é uma princesa, mas não sabe que o é. Vive, ou pelo menos vivia, presa em medos e paradigmas que a impediam de enxergar o mundo grande que só espera para abraça-la. Tinha medo da imensidão desse mundo, por isso não tinha coragem de encará-lo sozinha. Preferia a solidão do quarto com fone de ouvido. Não se permitia sair do seu próprio círculo por não saber os caminhos que o desconhecido guardava pra ela. Até que eu cheguei.
Falo com toda a propriedade – e de nariz empinado – que fiz muito bem a ela. Abri o seus olhos e tirei todas as suas amarras. Mostrei pra ela que o mundo pode nos trazer coisas boas de lugares inimagináveis e que não perceber isso é um tremendo insulto a nossa passagem tão rápida nesse plano. Mas fiz isso sem querer, sem intenção. Eu só narrei o mundo através da minha ótica e ela acompanhou tudo, e se interessou, e se envolveu, como alguém que descobre uma série nova e não consegue mais parar de assistir.
Assim, a Rapunzel se apaixonou por mim. Logo eu, que sempre procurei esse olhar e nunca o tinha encontrado. Logo eu, que tinha desistido de gastar minhas energias procurando reciprocidade, procurando algo palpável para escorar minha felicidade. Logo eu, que pelo caminho mais difícil, entendi que a felicidade está em mim e tinha decidido tirar esse tempo para se apaixonar por mim. Mas ela fez isso primeiro. Procurei tanto esse olhar, que quando achei, não soube o que fazer com ele.

Rapunzel provavelmente vai me odiar no final dessa história. Tenho certeza disso. Embora tenhamos degraus a subir, vou ter que deixá-la para que ela caminhe o resto sozinha. Assim como aconteceu comigo. Não fiz isso propositalmente, mas faz parte do crescimento. Ela está disposta a me esperar no fim deste caminho, e eu espero (e quero) que isso seja verdade, mas por hora, Rapunzel só tenho que pedir desculpa, nossas escadas estão lado a lado, só que para lugares diferentes.