A Rapunzel se
apaixonou por mim. Ela me olha como eu sempre quis que alguém me olhasse. Como
se eu fosse o brinquedo mais legal que a criança mais sortuda acabara de
ganhar. Tenho medo de falar dela num tom errado e confundir as causas e efeitos
dessa história muito interessante.
Quando a
conheci, não esperava nada. E nem tinha o que esperar, o momento que eu estava
não era propício para aquilo. O que eu encontrei foi algo diferente, inusitado
e talvez, surpreendente.
Rapunzel é uma
princesa, mas não sabe que o é. Vive, ou pelo menos vivia, presa em medos e
paradigmas que a impediam de enxergar o mundo grande que só espera para
abraça-la. Tinha medo da imensidão desse mundo, por isso não tinha coragem de
encará-lo sozinha. Preferia a solidão do quarto com fone de ouvido. Não se permitia
sair do seu próprio círculo por não saber os caminhos que o desconhecido
guardava pra ela. Até que eu cheguei.
Falo com toda
a propriedade – e de nariz empinado – que fiz muito bem a ela. Abri o seus
olhos e tirei todas as suas amarras. Mostrei pra ela que o mundo pode nos
trazer coisas boas de lugares inimagináveis e que não perceber isso é um
tremendo insulto a nossa passagem tão rápida nesse plano. Mas fiz isso sem
querer, sem intenção. Eu só narrei o mundo através da minha ótica e ela
acompanhou tudo, e se interessou, e se envolveu, como alguém que descobre uma
série nova e não consegue mais parar de assistir.
Assim, a
Rapunzel se apaixonou por mim. Logo eu, que sempre procurei esse olhar e nunca
o tinha encontrado. Logo eu, que tinha desistido de gastar minhas energias
procurando reciprocidade, procurando algo palpável para escorar minha
felicidade. Logo eu, que pelo caminho mais difícil, entendi que a felicidade
está em mim e tinha decidido tirar esse tempo para se apaixonar por mim. Mas
ela fez isso primeiro. Procurei tanto esse olhar, que quando achei, não soube o
que fazer com ele.
Rapunzel
provavelmente vai me odiar no final dessa história. Tenho certeza disso. Embora
tenhamos degraus a subir, vou ter que deixá-la para que ela caminhe o resto
sozinha. Assim como aconteceu comigo. Não fiz isso propositalmente, mas faz
parte do crescimento. Ela está disposta a me esperar no fim deste caminho, e eu
espero (e quero) que isso seja verdade, mas por hora, Rapunzel só tenho que
pedir desculpa, nossas escadas estão lado a lado, só que para lugares
diferentes.