quarta-feira, 19 de setembro de 2018

ADULTA MENINA, MENINO ADULTO


É uma lembrança que eu sempre guardei. Eu estava na sétima série, era 2008, mais uma vez voltando pra casa de carona com a mãe do meu melhor amigo, de uma aula de educação física no contra turno. Ele falou pra mãe dele que eu estava apaixonado por uma menina, e a mãe dele – surpreendentemente – ficou empolgada, dizendo que era pra eu aproveitar o momento, que quando adulto era difícil “ter aquilo” e descreveu de forma quase que perfeita como o eu adolescente estava me sentindo.

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Esse texto vai ser longo, aviso logo. A contextualização vai ser grande. E eu vou escrever como se tivesse contando uma história.
Eu tava voltando pra casa agora, ouvindo a música VOLTA, da banda O Terno, foi uma banda que conheci no Lollapalooza desse ano. Em 2017, eu também fui e fiz um texto sobre uma cena que me marcou, dentre as milhares coisas que marcaram e várias epifanias que tive. Esse de 2017, com certeza, foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Em 2018, eu esperava sentir o mesmo, mas foi uma sensação bem diferente – que não deixa de ser boa – e essa banda me tocou muito, foi o mais perto de 2017 que teve. Bota a música pra tocar enquanto lê o texto, deixa de ser ruim! Entra na onda comigo! Ora...
Eu sei que já escrevi muitos textos, pra muitas meninas diferentes (ou talvez só pro meu animus), todas com um ar de exagero e, porque não, desespero. Eu sempre tento dar um ar mais poético pro que eu escrevo, até porque não existe uma verdade e uma mentira, existem versões diferentes da mesma história.
Eu cresci acreditando nessas besteirinhas, em amor pra vida inteira, em amor da vida, em alma gêmea. Que ia chegar alguém e tudo ia fazer sentido. E eu não quero bancar o desacreditado da vida amorosa, o desapegado, muito menos o que acha que humanos não foram feitos para relacionamentos, mas tá difícil ó. Cada vez que eu reflito sobre os relacionamentos, sobre os impactos que eles podem causar na saúde mental, na autoestima, no futuro, na relação com outras pessoas, na vida, eu vejo que é preciso muitos fatores positivos, em muitas variáveis diferentes, para que algo dê certo. Fora o fato que eu nunca namorei, e agora falo da minha perspectiva, então eu tenho muito receio em, se acontecer, a primeira vai ser altamente vislumbrada e eu já vou fantasiar muitas coisas. Mas eu não vou saber se é realmente isso que está acontecendo ou apenas devaneio da primeira namorada. Tenho receio em sofrer depois desse término e ficar mais desacreditado ainda. Tenho receio em não ser tão bom pra pessoa que eu tiver como eu acho que ela mereça que alguém seja. É... o nome “cara inseguro” e “extraordinariamente comum” não são a toa.  
Por isso eu valorizo cada momentinho, qualquer que seja, desde um beijo na chuva à uma encarada durante uma passada no corredor, desde uma risada bem sincera a um abraço após um elogio inesperado . Qualquer micro momento em que eu me sinta igual 2008, nem precisa ser igual, mas que eu volte, nem que seja pela menor fração de tempo, a acreditar. A sentir os calafrios no pescoço, o frio na barriga, a mão trêmula, a fala travada e a alma explodindo. Sempre após esses momentos, há um longo suspiro, seguido de um sorriso.
 E é isso que me move. Saber que lá no fundo tem algo. Como o torcedor mais fanático que acredita no gol salvador nos últimos minutos.  Por que mesmo que não venha, eu terei acreditado.
Eu não sei quem é ela ainda, mas tô tentando. Ela é tão moça e tão adulta. Ela ri muito bonito. Ela é doce, linda. Eu sei que todos têm trevas e luz, mas eu olho pra ela e não consigo ver mal algum. Ela é tão incrível que eu nem sei descrever, quer mais poético do que o próprio poeta perder o vocabulário sempre que ela visita seus pensamentos? Eu tenho medo que machuquem ela, eu tenho certeza que já o fizeram, isso é muito injusto. Ela se doa e espera sempre o melhor das pessoas, ela merece alguém que se doe a ela e ache isso a melhor tarefa do mundo. Ou não, vai que ela não quer isso... Ela merece só ser muito feliz e que ninguém nunca faça sentir que não pode ser isso.
É extremamente fácil se apaixonar por ela. Difícil mesmo controlar a vontade de beijá-la, de dar todo o carinho do mundo, de dizer o quanto ela é foda pra caralho a todo o momento. Eu só queria  roubar um banco e fugir com ela. Mas e se ela não quiser vir comigo? Mesmo assim eu pagaria as passagens pro lugar que ela quisesse ir e só pediria um cartão postal em troca.
Talvez a Dona Denise, mãe do meu melhor amigo de 2008, estivesse certa, quanto mais adulto, mais difícil se apaixonar. Mas 2008 nunca esteve tão vivo, eu sinto. Preciso roubar um banco urgentemente.