É uma lembrança que eu sempre guardei. Eu estava na
sétima série, era 2008, mais uma vez voltando pra casa de carona com a mãe do
meu melhor amigo, de uma aula de educação física no contra turno. Ele falou pra
mãe dele que eu estava apaixonado por uma menina, e a mãe dele –
surpreendentemente – ficou empolgada, dizendo que era pra eu aproveitar o
momento, que quando adulto era difícil “ter aquilo” e descreveu de forma quase
que perfeita como o eu adolescente estava me sentindo.
***
Esse texto vai ser longo, aviso logo. A
contextualização vai ser grande. E eu vou escrever como se tivesse contando uma
história.
Eu tava voltando pra casa agora, ouvindo a música VOLTA,
da banda O Terno, foi uma banda que conheci no Lollapalooza desse ano. Em 2017,
eu também fui e fiz um texto sobre uma cena que me marcou, dentre as milhares
coisas que marcaram e várias epifanias que tive. Esse de 2017, com certeza, foi
um dos momentos mais felizes da minha vida. Em 2018, eu esperava sentir o
mesmo, mas foi uma sensação bem diferente – que não deixa de ser boa – e essa
banda me tocou muito, foi o mais perto de 2017 que teve. Bota a música pra
tocar enquanto lê o texto, deixa de ser ruim! Entra na onda comigo! Ora...
Eu sei que já escrevi muitos textos, pra muitas
meninas diferentes (ou talvez só pro meu animus), todas com um ar de exagero e, porque não, desespero. Eu
sempre tento dar um ar mais poético pro que eu escrevo, até porque não existe
uma verdade e uma mentira, existem versões diferentes da mesma história.
Eu cresci acreditando nessas besteirinhas, em amor
pra vida inteira, em amor da vida, em alma gêmea. Que ia chegar alguém e tudo
ia fazer sentido. E eu não quero bancar o desacreditado da vida amorosa, o
desapegado, muito menos o que acha que humanos não foram feitos para
relacionamentos, mas tá difícil ó. Cada vez que eu reflito sobre os
relacionamentos, sobre os impactos que eles podem causar na saúde mental, na
autoestima, no futuro, na relação com outras pessoas, na vida, eu vejo que é preciso muitos
fatores positivos, em muitas variáveis diferentes, para que algo dê certo. Fora
o fato que eu nunca namorei, e agora falo da minha perspectiva, então eu tenho
muito receio em, se acontecer, a primeira vai ser altamente vislumbrada e eu já
vou fantasiar muitas coisas. Mas eu não vou saber se é realmente isso que está
acontecendo ou apenas devaneio da primeira namorada. Tenho receio em sofrer
depois desse término e ficar mais desacreditado ainda. Tenho receio em não ser
tão bom pra pessoa que eu tiver como eu acho que ela mereça que alguém seja.
É... o nome “cara inseguro” e “extraordinariamente comum” não são a toa.
Por isso eu valorizo cada momentinho, qualquer que
seja, desde um beijo na chuva à uma encarada durante uma passada no corredor,
desde uma risada bem sincera a um abraço após um elogio inesperado . Qualquer micro
momento em que eu me sinta igual 2008, nem precisa ser igual, mas que eu volte,
nem que seja pela menor fração de tempo, a acreditar. A sentir os calafrios no
pescoço, o frio na barriga, a mão trêmula, a fala travada e a alma explodindo.
Sempre após esses momentos, há um longo suspiro, seguido de um sorriso.
E é isso que
me move. Saber que lá no fundo tem algo. Como o torcedor mais fanático que
acredita no gol salvador nos últimos minutos.
Por que mesmo que não venha, eu terei acreditado.
Eu não sei quem é ela ainda, mas tô tentando. Ela é
tão moça e tão adulta. Ela ri muito bonito. Ela é doce, linda. Eu sei que todos
têm trevas e luz, mas eu olho pra ela e não consigo ver mal algum. Ela é tão
incrível que eu nem sei descrever, quer mais poético do que o próprio poeta
perder o vocabulário sempre que ela visita seus pensamentos? Eu tenho medo que machuquem ela, eu tenho certeza que já o fizeram, isso é muito injusto.
Ela se doa e espera sempre o melhor das pessoas, ela merece alguém que se doe a
ela e ache isso a melhor tarefa do mundo. Ou não, vai que ela não quer isso...
Ela merece só ser muito feliz e que ninguém nunca faça sentir que não pode ser
isso.
É extremamente fácil se apaixonar por ela. Difícil mesmo controlar a vontade de beijá-la, de dar todo o carinho do mundo, de dizer
o quanto ela é foda pra caralho a todo o momento. Eu só queria roubar um banco e fugir
com ela. Mas e se ela não quiser vir comigo? Mesmo assim eu pagaria as
passagens pro lugar que ela quisesse ir e só pediria um cartão postal em troca.
Talvez a Dona Denise, mãe do meu melhor amigo de
2008, estivesse certa, quanto mais adulto, mais difícil se apaixonar. Mas 2008
nunca esteve tão vivo, eu sinto. Preciso roubar um banco urgentemente.